“Vinte e Cinco, Vinte e Um” (Twenty-Five, Twenty-One) acompanha a jornada de Na Hee-do (Kim Tae-ri), uma jovem determinada a se tornar uma grande esgrimista, e Baek Yi-jin (Nam Joo-hyuk), um ex-universitário cuja família perdeu tudo na crise financeira da Coreia do Sul em 1998.
Em meio a tempos difíceis, seus caminhos se cruzam, e uma amizade especial surge entre eles. Conforme os anos passam, essa conexão se transforma em algo mais profundo, enquanto ambos enfrentam desafios, amadurecem e buscam seus sonhos.
A narrativa da série é repleta de nostalgia, mas a meu ver o ponto alto da série seja crescimento pessoal e as reviravoltas que ocorrem na vida dos personagens.
Vinte e Cinco, Vinte e Um: Resenha
Pager, telefone público, lista telefônica (aquela com páginas amarelas) locadora de filmes… Acredito que para quem tem mais de 35 de idade, assistir a essa série foi uma nostalgia deliciosa. Partindo desse princípio, foi impossível para mim não me apegar a essa série.
Contudo, eu esperava uma série colegial sem muita profundidade, tendo o romance como foco e os problemas orbitando ao redor dele e dando apoio à trama. Mas o que houve, no fim das contas, foi o contrário.
Os acontecimentos envolvendo a crise financeira do FMI, as amizades, o processo de crescimento natural dos personagens, bem como os objetivos e metas de cada um deles eram o foco da série e o romance surgiu naturalmente em meio a isso tudo.
“Jovem demais para perder qualquer coisa”
Logo nos minutos iniciais da série, vemos uma estudante do ensino médio chamada He-doo (Kim Tae-ri) indo para escola. Sua mãe, que é âncora de um jornal, está nesse momento transmitindo uma notícia à respeito da crise do FMI. Ela também cruza com alguns manifestantes, que protestam sobre isso, mas, despreocupadamente, ela murmura consigo mesma:
“Isso não tem nada a ver comigo. É coisa de adulto. Tenho apenas 18 anos e sou jovem demais para perder qualquer coisa.”
Então, pouco minutos depois, o enredo mostra o quanto ela não poderia estar mais equivocada com tal pensamento.
Romance entre adultos e menor de idade nos k-dramas
Além do pensamento acima nortear toda a série, fora do entretenimento, essa frase aparentemente trivial sobre a idade de Na He-doo levantou um tema polêmico entre os espectadores.
A série retrata a amizade entre Hee-do e Yi-jin (Nam Joo-Hyuk). No entanto, Yi-jin é um adulto – ele tem 22 anos e era estudante de engenharia antes de ter que abandonar a faculdade após a falência de sua família.
A idade realmente importa?
Ver nas telas relacionamentos de adolescentes com adultos não é incomum na cultura dos k-dramas e j-dramas (falo pelo que assisti).
Apenas a título de exemplo, no k-drama Backstreet Rookie, temos uma menor de idade (interpretada por Kim Yoo-jung de Moolingth by Clouds) beijando um adulto desconhecido na rua. Nem precisamos comentar a polêmica que isso gerou.
Outro exemplo bem famoso, diga-se de passagem, é Goblin: The Lonely and Great God, onde ele é um imortal de 900 anos e ela uma estudante do ensino médio. Li que Gong Yoo, que interpretou o Goblin, havia inclusive recusado o papel diversas vezes por conta disso. Afinal, ele estava bem ciente do quanto isso geraria polêmica. Mas após forte insistência da roteirista, ele acabou aceitando o papel, e sim, a polêmica ocorreu, como esperado.
Contudo, em Vinte e Cinco, Vinte e Um vemos que houve um cuidado em não sexualizar a personagem adolescente, o deixou no ar uma atmosfera quase inocente. Diante do carisma e das dificuldades de cada personagem, não foi muito simples lembrar que a história começou com um jovem adulto passando tempo com uma estudante do ensino médio.
Qual a idade Hee-do e Yi-jin quando se conhecem em 1998?
Antes de responder a essa pergunta, é necessário esclarecer que na Coreia do Sul eles adotam duas idades: a coreana e a ocidental.
Na idade ocidental, que segue o sistema internacional, a idade começa em 0 anos ao nascer e aumenta a cada aniversário. Já na idade coreana, a pessoa já nasce com 1 ano de idade e adiciona-se 1ano a cada novo ano.
Sendo assim, houve uma certa confusão sobre a idade dos personagens. Na legenda da Netflix corresponde à idade coreana que os personagens verbalizam. Hee-do tem 18 anos na idade coreana, o que significa que sua idade legal é 16 ou 17, dependendo de sua data de nascimento.
Quando He-doo descobre que Yi-jin tem 22 anos na idade coreana, ela fica chocada, dizendo que achava que ele tinha no máximo 20 (o que corresponderia a 18/19 na idade ocidental). Assim, ela imediatamente começa a tratá-lo com honoríficos formais, percebendo que ele não é um colega de idade próxima.
Qual é a natureza do relacionamento deles?
No início, Yi-jin e Hee-do são apenas amigos, apoiando-se mutuamente e compartilhando seus desafios. No entanto, ao final do quarto episódio, o olhar de Yi-jin para Hee-do sugere que seus sentimentos estão mudando. Cerca de um ano depois, ele finalmente admite que a ama. Diante dessa declaração, Hee-do reflete por um momento antes de admitir que ainda não sabe como definir o que existe entre eles.
A cena foi apresentada de maneira sutil, mas gerou reações mistas entre os espectadores. Alguns ficaram insatisfeitos com a decisão dos roteiristas de desenvolver esse enredo enquanto a personagem ainda era menor de idade, em vez de esperar até que ela estivesse na faculdade.
Vale a pena assistir Vinte e Cinco, Vinte e Um?
Definitivamente, sim – mas com algumas ressalvas.
Vinte e Cinco, Vinte e Um é um K-drama lindamente construído, que entrega uma história envolvente sobre juventude, amizade, sonhos e as dificuldades da vida adulta. A série se destaca pela sua cinematografia nostálgica, personagens autênticos e um roteiro que equilibra bem momentos leves e emocionantes.
O relacionamento entre Hee-do e Yi-jin é construído de maneira cuidadosa, priorizando o desenvolvimento da amizade e do apoio mútuo antes de qualquer sentimento romântico mais evidente.
No entanto, a diferença de idade entre os protagonistas no início da história pode gerar desconforto para alguns espectadores. Além disso, o final, que foge do clássico “felizes para sempre”, pode não agradar quem espera um desfecho romântico tradicional.
Ainda assim, Vinte e Cinco, Vinte e Um é uma produção que vale a pena assistir, especialmente para quem aprecia histórias emocionantes e reflexivas sobre crescimento, primeiro amor e o impacto das lembranças do passado.
Mesmo que a vida não siga os planos que traçamos na juventude, cada momento vivido tem seu valor e nos molda para o futuro – e essa é, talvez, a maior lição que o drama nos deixa.